COLUNA A GATA MI-AUAU


Quando a adoção é uma questão de responsabilidade e amor ao próximo


Quatro de outubro é Dia Nacional de Adotar um Animal. Essa data me remete às ações em prol de adoções em que me vi envolvida. Minha luta em defesa dos animais começou tímida, mas dentro de casa, quando eu e meu marido começamos a ficar sensibilizados com o abandono de filhotes de gatos nas ruas. Mais de trinta foram resgatados e, consequentemente, levados à adoção. A maioria ganhou nosso afeto e lá em casa mesmo ficou até hoje. Além do abandono dos bichanos, acabamos nos envolvendo com o abandono de cães também.

Lembro de Palhaço, um vira-lata simpaticão, que ninguém sabe como foi parar na rua onde moramos. Conquistou o dono da pizzaria e os seguranças que ali prestavam serviço, além de toda a vizinhança. Estava sempre ali e, quando sumia, todos saiam em sua busca.

Bela tarde, marquei com uma amiga para ver o pôr do sol na praia. E aquele simpático cão que parecia sorrir o tempo todo resolveu me seguir. Fiz de tudo para dribla-lo mas, quando olhava para trás, quem aparecia atrás do poste? Palhaço. Já atrasada e há algumas quadras de casa, resolvi chama-lo para me acompanhar, o que resultou em grande alegria. O cãozinho, de cor caramelada, me acompanhou educadamente na travessia da avenida e, ao meu lado ficou até a hora que resolvi vir embora. O levamos de carro pois a noite já havia caído e Palhaço não tinha coleira, afinal era um morador de rua. Ao chegarmos na rua, grande foi a alegria dos seguranças e do dono da pizzaria ao revê-lo. “Você estava aonde, Palhaço?”, perguntavam.

A verdade é que não dava mais para deixa-lo na rua, á mercê do perigo dos carros e da maldade humana. Lá em casa não dava, os felinos não seriam simpáticos com ele. Então comprei uma coleira, liguei para uma Ong de defesa dos animais e lá na calçada ficamos no aguardo de uma luz. Gislane e Joyce, da União Defensora dos Animais Bicho Feliz, me ligou e disse que tinha um lugar para acolher provisoriamente o nobre rapazinho, lá em Lauro de Freitas. Elas chegaram de carro por volta das 23 horas e lá vamos eu e Palhaço no banco traseiro. Durante a viagem, Palhaço apoiou a cabeça em meu colo e adormeceu.

A casa em Lauro de Freitas que acolhei Palhaço pertence à Ana, xará que tinha outros cães. Lá ficou por dois dias até que durante um passeio na praça, Palhaço acabou fazendo mais uma vítima: uma moradora da região que havia perdido seu cãozinho há pouco tempo. Ela ficou encantada por Palhaço e vice-versa. Levou-o para sua casa, onde moram hoje somente eles dois. É, Palhaço não só deixou de ser morador de rua como também ganhou um lar e um amor.

São tantas outras estórias que por falta de espaço vou apenas citar algumas delas. Como caso de Aninha, uma branca poodle bem jovem, largada na porta de um boteco. Era tarde da noite de um domingo e ela estava ali, sentada na porta, cansada, com medo, fome e sede. O colo foi o que pude oferecer naquele momento. Acabou que a levamos para um lar temporário naquela mesma noite, com a orientação de Ana Rita Tavares, da Terra Verde Viva. Acabou que a danadinha era tão cativante que virou garota propaganda da Ong para os programas de adoção. Acabou sendo adotada por um casal que já possuía um poodle macho parecido com ela. Ponto. Mais um final feliz.
Depois vieram os casos de Totó, um robusto vira-lata, que de tão grande assustava, mas ao mesmo tempo, de tão meigo, encantava. Esse tinha até casa, mas seus donos o deixavam livre para virar as latas do bairro. Certa manhã encontrei-o caído na calçada, acometido por uma pedrada no olho. Ana Rita, penalizada com o estado do animal, levou-o para cuidados veterinários. Perdeu um olho, mas ganhou nova vida. Hoje vive numa chácara em Jauá, mantida pela Ong.

Um pastor capa preta, que ganhou o nome de Lobo, foi abandonado na praia. Resgatado das ruas foi viver com o cara que tinha uma eletrônica. E Baby? Uma poodle porte grande, cor mesclada, cujo pêlo já estava rastafari. Seguiu meu marido na praia e, como a noite já havia caído, não tivemos coragem de abandoná-la. O que fazer? Apelar para quem? Paulinha, sim, lembro que Paulinha queria ter um poodle. Mas de pequeno porte. E agora? Liguei para ela e fomos encontrá-la. De longe ela já disse: “Essa é enorme!”. Mas quando chegou perto e encontrou aqueles olhinhos, não resistiu. “Baby, o nome dela vai ser baby”, e saiu arrastando-a pela coleira improvisada até ganhar sua coleira nova, dia seguinte, cor pink.

E agora, mais recente, o caso do cãozinho Toby, abandonado na quadra da Boca do Rio. Uns três meses, mistura de vira com coqui e pastor. Pense num cãozinho lindo! Em menos de duas horas foi adotado por uma carinhosa menina de dez anos.

A sensação de missão cumprida se dá com o bem estar do animal. A importância de conscientizar da posse responsável e a necessidade de tirar das ruas esses animais, nos dá forças para continuar lutando em defesa dessa causa.

Todas essas estórias, contei para sua reflexão sobre a importância do Dia Nacional de Adotar um Animal. Como dizia a atriz Brigitte Bardot, que eu gosto muito de parafrasear, "quando se é capaz de lutar por animais, também se é capaz de lutar por crianças ou idosos. Não há bons ou maus combates, existe somente o horror ao sofrimento aplicado aos mais fracos, que não podem se defender".



Ana Lucia Andrade
Jornalista e ativista da causa animal